domingo, 22 de junho de 2008

Opinião

Arica Cuiabá
Por Serafim Carvalho Melo (*)

A ligação comercial Arica Cuiabá será mais uma vez discutida na capital do Estado entre autoridades e empresários de Mato Grosso com os chilenos que nos visitam, liderados pelo Intendente Regional, Luis Rocafull López. A primeira vez que autoridades de ambos os países falaram aqui em Cuiabá sobre esta ligação foi em 1996, quando o então Ministro de Obras Públicas do Chile, Ricardo Lagos, posteriormente eleito Presidente da República, se manifestou muito interessado com a idéia, na V Conferencia Interparlamentar Empresarial do Cone Sul, realizada na FIEMT (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso). À época, Arica era uma Província da Primeira Região do Chile, situada no extremo norte do País, fronteira com o sul do Peru. Sua capital Iquique exercia um forte monopólio político e econômico na região, sem muita chance de prosperar as iniciativas que resultassem em subtração de cargas para seu porto, ou de empresas para sua Zona Franca. Mais de dez anos se passaram e muitas coisas surgiram tanto do lado chileno quanto aqui em Mato Grosso. Arica hoje, com cerca de 200.000 habitantes é a capital da XV Região do Chile, desde 23 de março de 2007, com a promulgação da Lei 20.175, de criação desta Região geográfica. Sonho que se transformou em realidade depois de muitos anos de uma luta intestina de suas lideranças políticas e empresariais. O seu porto atualmente privatizado movimenta cerca de 2.000.000 de toneladas ano e sua Zona Franca se encontra consolidada podendo se constituir em importante plataforma de produção e/ou transformação de produtos de ou para Mato Grosso. No lado de Mato Grosso, algumas coisas novas surgiram também no sentido desta ligação, como o Porto Seco de Cuiabá que tem demonstrado vigoroso crescimento nos volumes de cargas importadas e/ou para exportação e um Distrito Industrial onde se encontram instaladas empresas de elevado potencial de comércio exterior. No setor de turismo surgiu o Instituto Pantanal Pacífico na definição de roteiros turísticos no centro oeste sul-americano. Como se sabe, Mato Grosso é o décimo maior Estado exportador do Brasil, com mais de U$4,00 bilhões em 2007, cuja pauta de exportação se concentra nos complexos soja: grãos, farelo e óleo; carnes: bovina, aves e suína, algodão, couro e madeira, entre os principais produtos. Entretanto nada é exportado diretamente para o Chile, que se situa distante 2000 km de Cuiabá, via Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Em 2003, Mato Grosso chegou a exportar 4.000 ton. de carnes para o Chile, via rodoviária, por São Paulo e Buenos Aires. O potencial de mercado existente entre estas duas regiões é complementar. Em quanto somos tradicionais produtores de alimentos e importadores dos insumos para produzi-los, o norte do Chile, confinado entre o mar e montanha, sobre o deserto é tradicional importador de alimentos e exportador de fertilizantes. É grande produtor ainda e exportador de farinha de peixe, frutos do mar, pescado, condimentos, frutas, vinhos, MDF e cobre. O antagonismo de ambientes naturais existentes nesta região inserida no centro oeste sul-americano, certamente inexiste outro igual no planeta. As elevadas temperaturas e baixas altitudes de Cuiabá se contrastando com as elevadas altitudes e as mais baixas temperaturas dos Andes. A exuberância da vida em flora e fauna do Pantanal se contrastando com o deserto de Atacama, o mais seco do mundo. No campo da cultura, das artes e da história é imenso o potencial a ser explorado ou pelo menos ser conhecido pelos seus habitantes. Assim sendo, no âmbito do turismo também em suas diferentes modalidades, esta ligação tem tudo a prosperar, desde que haja uma decisão política de seus governantes no sentido de concluir as obras de infra-estrutura rodoviária, aeroportuária e aduaneira, cuja precariedade em que se encontram inviabiliza qualquer iniciativa empresarial. A realização periódica de novos encontros como este, seja em Cuiabá como em Arica, inclusive com a participação de empresários e de outros governos regionais interessados é a melhor estratégia a fim que estas demandas cheguem à mesa dos respectivos governos centrais dos países envolvidos.
(*) Vice Presidente do Conselho de Integração Internacional da FIEMT. E-mail: sermelo@terra.com.br

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