domingo, 29 de junho de 2008

Revistas da Semana

Se o petróleo chegar a US$ 200 por barril, como se prevê, a economia mundial deverá passar por uma mudança dramática – e o Brasil não ficará ileso
José Fucs e Juliano Machado

CLIMA QUENTE

A polícia reprime protesto de pescadores da França, da Itália e de outros países europeus contra os altos preços do petróleo em Bruxela, na Bélgica, no início de junho. O impacto foi negativo nos negócios. Nas ruas das grandes cidades e nas principais estradas do país, tudo parece normal. O número de veículos em circulação não pára de crescer. A indústria automobilística bate recorde atrás de recorde em vendas. E o consumo de combustíveis, cujos preços estão praticamente “congelados” desde 2005, sobe de maneira descontrolada. Nesse cenário, é difícil imaginar que o mundo esteja passando por um turbilhão que poderá transformar de forma radical a vida dos indivíduos e das empresas nos próximos anos. Mas é exatamente isso o que está acontecendo. A disparada do preço do petróleo – hoje cotado a quase US$ 140 o barril, o dobro de um ano atrás e 14 vezes mais que em 1999, quando custava apenas US$ 10 – já provoca grandes mudanças na economia global. (...)

"O Brasil não precisa de energia nuclear" : José Goldemberg

O físico que ganhou o Nobel do Meio Ambiente critica o governo por ampliar o programa atômico

Peter Moon
Toda manhã, bem cedo, um senhor percorre a passo rápido a pista de cooper do clube A Hebraica, em São Paulo. Ninguém lhe dá os 80 anos que tem. Gaúcho de Santo Ângelo, o físico José Goldemberg é um dos maiores cientistas que o Brasil já teve. Foi reitor da Universidade de São Paulo e ministro da Educação. Sua especialidade é a produção de energia. Crítico das usinas nucleares, nos anos 1970 Goldemberg foi um dos responsáveis pela criação do Proálcool. Passados 30 anos, o programa é referência mundial. Em 2007, a revista Time elegeu Goldemberg um dos Heróis do Meio Ambiente no planeta. Há poucos dias, ele recebeu o Prêmio Planeta Azul, considerado o Nobel do Meio Ambiente. São R$ 800 mil (50 milhões de ienes) dados pela fundação Asahi Glass, do Japão, por sua contribuição às políticas de uso e conservação de energia. Goldemberg está em ótima companhia. Exemplos de ganhadores do prêmio são o ecologista britânico James Lovelock, criador da Hipótese Gaia (a suposição de que o planeta forma um grande organismo vivo), a ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, conhecida por sua ação a favor das causas ambientais, e o ambientalista Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, um dos mais respeitados centros de análise ambiental. (...)

A reação do governo contra as ONGs

Estão prontos os planos para conter os abusos do Terceiro Setor. Na prática, eles podem ser insuficientes
Andrei Meireles e Murilo Ramos


NOVAS REGRAS

O ministro da Justiça, Tarso Genro, criou um grupo de estudos para investigar as atividades de ONGs na Amazônia. A descoberta de que o empresário sueco Johan Eliasch é dono de um latifúndio amazônico maior que a área da cidade de São Paulo teve pelo menos uma utilidade: alertou o governo para a necessidade de regular a atividade descontrolada de entidades e empresas multinacionais numa área estratégica para o país. Ao usar uma ONG alimentada por recursos internacionais para comprar florestas em nome da necessidade de preservá-las, Eliasch acelerou uma discussão necessária, que envolve terras indígenas, insatisfação entre comandantes militares e o eterno debate em torno da soberania brasileira sobre a Amazônia. ÉPOCA teve acesso com exclusividade a um conjunto de medidas que deverá ser adotado nas próximas semanas com o objetivo de atacar práticas perpetradas por ONGs e observadas – de longe – pelas autoridades brasileiras nos últimos meses (leia as principais no quadro). Entre as ilegalidades estão: biopirataria, espionagem, campanhas de internacionalização da Amazônia, prospecção do solo e contrabando de minerais. A idéia, segundo as novas regras, é controlar uma situação que beira a confusão. O governo exigirá o recadastramento de organizações estrangeiras no Ministério da Justiça, já que o acervo de informações é precário. Outra iniciativa é limitar a entrada de estrangeiros em reservas indígenas e em áreas de preservação ambiental a quem tenha visto de trabalho permanente ou pelo menos temporário. A Fundação Nacional do Índio (Funai) verificou que entre 1999 e 2007 foram concedidas 127 autorizações de ingresso para estrangeiros e, em 81 casos, a permissão aprovada era irregular. Segundo o Ministério da Justiça, parte desse contingente entrou no país como turista e não poderia ter desenvolvido nenhuma atividade profissional. No caso das ONGs, nacionais ou estrangeiras, elas só poderão atuar nessas localidades se estiverem com o cadastro em dia. A mesma pesquisa apontou uma situação preocupante: entre 76 entidades que realizaram trabalhos com populações indígenas nos últimos oito anos, apenas sete estavam com a papelada em ordem. (...)

“Ele pagava R$ 50 mil”

As denúncias de tentativas de suborno no PSDB de São Paulo revelam um partido desfigurado e cada vez mais parecido com aquilo que os tucanos sempre criticaram
David Friedlander e Leandro Loyola

A DENÚNCIA

O tucano Pedro Vicente afirma ter recebido uma proposta de R$ 50 mil para trocar Alckmin por Kassab. Há vários meses alguns tucanos de São Paulo, quando se referem aos colegas de partido, comportam-se como se estivessem falando dos piores inimigos. O motivo é a eleição municipal deste ano, que dividiu o partido em dois grupos rivais. Um deles defende a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin à Prefeitura de São Paulo. O outro, formado pelos aliados do governador José Serra, prefere o projeto de reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Até agora, a troca de acusações e os xingamentos ocorriam de forma dissimulada. Na semana passada, denúncias de tentativas de suborno revelaram o lado sujo da disputa no PSDB de São Paulo.
Poucos dias antes da convenção que decidiria entre Alckmin e Kassab, marcada para este domingo, delegados do partido favoráveis a Alckmin afirmaram ter recebido propostas de suborno para trocar de lado e apoiar a aliança com Kassab. Os delegados são militantes do PSDB com direito a voto na convenção do partido. Havia mais de um mês, o grupo de Serra e Kassab vinha procurando esses delegados para convencê-los a ficar do lado de Kassab. Os aliados de Alckmin, então, passaram a se queixar de que os delegados tucanos com emprego na Prefeitura estariam sofrendo pressão para assinar uma lista pró-Kassab e de que haveria ofertas de cargos para os partidários de Alckmin que mudassem de lado. (...)

A campeã da impopularidade
Por que o governo de Ana Júlia Carepa, no Pará, registra as piores taxas de aprovação do país
Com reportagem de Daniel Nardin

IMAGEM NEGATIVA

Ana Júlia, no Palácio Lauro Sodré, antiga sede do governo paraense. Mal avaliada, ela aposta em investimentos no Pará para se recuperar. Na última visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Belém, no fim de maio, um bordão acompanhou a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), em suas aparições ao lado da comitiva presidencial. “Ana Júlia Jatobá, a madrasta do Pará”, entoavam professores da rede pública estadual em greve. Era uma alusão a Anna Carolina Jatobá, a madrasta acusada de matar a enteada Isabella Nardoni, num crime que chocou o país. A manifestação fora convocada por militantes do P-SOL, partido formado por ex-petistas que faz oposição a Ana Júlia. “Isso é coisa de politiqueiro eleitoreiro”, diz Ana Júlia.
O avião brasileiro de Hugo Chávez

O projeto armamentista da Venezuela inclui um monomotor do Brasil e submarinos da Rússia
Roberto Lopes

O ex-caminhoneiro paranaense Jesus Rodrigues passou os últimos dias cotando, na Itália e na Rússia, o preço de chapas metálicas para aviões pequenos, de um só motor. Jesus é dono da Plasmatec, uma empresa modesta, espremida entre dois gigantes do setor aeronáutico: a Embraer, quarta maior fabricante de aviões do planeta, e a Avibras, que exporta foguetes militares. A Plasmatec fica em São José dos Campos, cidade do interior paulista que respira aviação. Das pranchetas da empresa saiu o projeto do Guará 200, um monomotor de dois lugares ideal para adestrar pilotos – civis e militares. A Aeronáutica homologou o modelo e Jesus já tem um cliente interessado em comprar 24 unidades. É o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O negócio poderá render US$ 8 milhões. (...)


Violência contra civis em favela do Rio e morte de cadete na Aman revoltam a população e reacendem debates sobre o papel dos militares
Por ALAN RODRIGUES, FRANCISCO ALVES FILHO E RENATO GARCIA
"Nenhum cidadão brasileiro deve ser considerado ou tratado como inimigo. Sob o sol da manhã de sábado 14, na subida do Morro da Mineira, centro do Rio de Janeiro, deu-se um encontro insólito entre o tenente do Exército Vinícius Ghidetti e um dos traficantes que mandam na favela. Acompanhado de um sargento e nove soldados, o oficial apontou para três jovens detidos pelos militares e disse: "Trouxe um presentinho pra vocês." O bandido quis saber: "São alemão?" - na gíria que identifica integrantes da facção rival. "São da Provi", explicou o oficial, referindo-se ao Morro da Providência. Depois disso, despediu-se do bandido com um caloroso "Valeu!" Foi embora ainda sob o eco dos gritos desesperados dos três jovens, que pediam: "Pelo amor de Deus, eles vão nos matar!". E mataram mesmo, pouco tempo depois, no alto do Morro da Mineira. Não sem antes, como é de praxe na cartilha de crueldade do tráfico, torturar barbaramente os jovens Wellington Gonzaga da Costa Ferreira, 19 anos, David Wilson Florêncio da Silva, 24, e Marcos Paulo Rodrigues Campos, 17. Eles levaram 46 tiros, a maioria na cabeça. David teve parte do braço decepado, Marcos foi arrastado pelas pernas depois de morto e Wellington teve as mãos amarradas antes de ser executado. Os corpos foram achados horas depois, num vazadouro de lixo da Baixada Fluminense. (...)

Beber e dirigir agora dá cadeia

Nova lei, que prevê até prisão para quem guiar após ingerir álcool, tenta mudar as alarmantes estatísticas de acidentes e causa polêmica por sua rigidez. Resta saber se a fiscalização será eficiente

Os termômetros marcavam 12 graus centígrados na noite da terça-feira 24 em São Paulo. O frio poderia ser um atrativo a mais para correr para debaixo das cobertas cedo, mas os paulistanos não pareciam dispostos a abrir mão do prazer de saborear um chope bem tirado na companhia dos amigos. No boêmio bairro da Vila Madalena, os bares estavam lotados, os garçons serviam tulipas em todas as mesas e a nova legislação, que estabelece até cadeia para quem dirige sob o efeito do álcool, em nada atrapalhava o clima festivo. "Nem me lembrava da lei. Só agora que você tocou no assunto", admitiu a executiva Patrícia Galvadão, 32 anos, que tomava uma caipirinha de saquê no Boteco São Bento e voltaria para casa, distante 20 minutos do bar, dirigindo. Na mesa de Patrícia, mais oito amigos. Cinco confirmaram que pegariam o carro na saída, embora estivessem bebendo. Se fossem flagrados pela polícia, teriam sérios problemas. (...)

Minc e o lixão de paciência

Ministério Público questiona licença ambiental para construir um aterro sanitário em área de preservação. A autorização foi dada quando o ministro ocupava a Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro
MINO PEDROSA

O geógrafo Carlos Minc Baumfeld assumiu o Ministério do Meio Ambiente com uma missão muito bem definida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: para que o País realize as necessárias obras de infra-estrutura, é preciso acelerar os processos de concessões de licenças ambientais, sem, contudo, prejudicar a preservação ecológica. A principal credencial de Minc para essa missão é a sua atuação à frente da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, entre 2006 e maio último, quando mudou-se para Brasília. No governo estadual, Minc construiu a imagem de alguém capaz de agir com independência e dar celeridade à burocracia sem criar conflitos com os movimentos ambientalistas, dos quais ele é originário. Mas um processo conduzido pela Procuradoria da República e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro questiona pelo menos uma das concessões ambientais liberadas pela Secretaria do Ambiente do Rio. Trata-se da permissão para a construção de um aterro sanitário, localizado no bairro de Paciência, próximo ao aeroporto de Jacarepaguá e a menos de dez quilômetros da Base Aérea de Santa Cruz, numa área de preservação ambiental e de segurança aeroportuária. (...)

O calote do professor Delúbio

Ex-tesoureiro do PT não cumpre decisão judicial, deixa de devolver R$ 164,6 mil ao governo de Goiás e continua empregado, mesmo sem trabalhar
SÉRGIO PARDELLAS

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, um dos principais protagonistas do escândalo do mensalão, está novamente na alça de mira do Ministério Público. Desta vez, ele é acusado de desacatar uma decisão judicial e promover um calote contra o Estado de Goiás. Em maio de 2007, Delúbio foi condenado a devolver R$ 164,6 mil ao governo goiano, mas até agora, passado mais de um ano, não pagou nenhum centavo. O valor se refere aos salários que Delúbio recebeu, segundo a Justiça, de forma irregular, como professor contratado pela Secretaria de Educação. O ex-tesoureiro petista recebia os salários todos os meses, mas não punha os pés na sala de aula. Delúbio foi contratado pelo governo de Goiás em 1974, mas se licenciou diversas vezes sob o argumento de atuar no Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado (Sintego). Na sentença condenatória, o juiz Ari Ferreira de Queiroz, da 3ª Vara da Fazenda Pública de Goiânia, entendeu que, nos períodos de licença, Delúbio na verdade residia em São Paulo, trabalhava para o PT e não prestava serviços ao sindicato.

Temporão na corda bamba

No governo já se cogita quem será o sucessor do ministro da Saúde, que está desgastado e sem apoio da base aliada e do próprio partido, o PMDB
OCTÁVIO COSTA E RUDOLFO LAGO

A paciência do presidente Lula com o seu ministro da Saúde, José Gomes Temporão, está chegando ao fim. A mais recente demonstração desse mal-estar ocorreu na quintafeira 19, quando Temporão foi praticamente ignorado na cerimônia de abertura da Semana Nacional Antidrogas no Palácio do Planalto. O ministro da Saúde nem sequer foi convidado a subir ao palco, ficando na platéia. Não deve ter sido falha do cerimonial, pois o presidente não chamou o ministro à mesa. Ao final do evento, Temporão ainda tentou cumprimentar o presidente Lula, que nem sequer se virou para vê-lo. Não foi a primeira vez que Lula demonstrou má vontade com seu ministro da Saúde. Em mais de uma ocasião, segundo interlocutores, Lula fez queixas ao estilo de Temporão. "Ele fica se metendo nessas polêmicas que não levam a nada, e não resolve os problemas na saúde", desabafou o presidente numa reunião do Conselho Político há dois meses. "Se tivesse havido mais empenho dele para manter a CPMF, não estávamos nessa situação agora", completou. (...)

Tarso Genro : ''Chega de fachada''

Ministro da Justiça prepara lei para expulsar falsas ONGs estrangeiras da Amazônia e diz que a candidatura de Dilma deve passar pelo crivo do PT
Por RUDOLFO LAGO E OCTÁVIO COSTA

Como todo bom gaúcho, o ministro da Justiça, Tarso Genro, revela uma disposição incomum para comprar brigas. A mais recente é um novo estatuto para a presença e atividades de estrangeiros no Brasil, que, antes mesmo de entrar em vigor, já provoca controvérsia. Para funcionar, ONGs e outras organizações não brasileiras terão de passar pelo crivo dos Ministérios da Justiça e da Defesa. Nesta entrevista à ISTOÉ, Tarso é direto: há ONGs de fachada, que acobertam outros interesses. Elas serão convidadas a mudar ou a se retirar do País. O ministro aponta outras idéias polêmicas para a segurança pública: propõe uma aliança com as mães que moram em áreas violentas para que elas indiquem jovens que poderiam ser cooptados pelo tráfico, para que sejam protegidos por programas educacionais e de qualificação profissional que mudem a sua situação. "Chama-se Mães da Paz. Elas, nas favelas, convivem com a marginalidade, sabem quem são os marginais e dialogam com eles." E, na política, Tarso também compra as suas brigas: nada contra a ministra Dilma Rousseff como opção para a sucessão do presidente Lula. Mas ele faz questão de lembrar: a decisão final quanto a isso não pode ser unicamente do presidente: tem de ser discutida com o PT. (...)

''O Brasil não vai escapar da inflação'':Carlos Lessa

Ex-presidente do BNDES critica estratégia do governo para enfrentar alta do petróleo, mas elogia biocombustível
Por OCTÁVIO COSTA E RUDOLFO LAGO
Aos 72 anos, o economista Carlos Lessa desistiu de disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSB. Por um partido de estrutura ínfima no Estado, seria uma aventura sem maiores conseqüências. Mas a receita que Lessa teria para o Rio é a mesma que tem para o Brasil: é preciso que tanto a cidade como o País recuperem a auto-estima. "O presidente Lula é muito bom nas políticas sociais e tem instinto para o que quer o povo brasileiro, mas não tem nenhuma visão nacional; se ele tivesse, não se deslumbrava tanto com os aplausos que recebe no Exterior", critica. Duro e irônico, Lessa cobra, inclusive, a atitude da mulher de Lula, Marisa Silva, que requereu cidadania italiana para ela e para os filhos: "Se o Lula soubesse o que é Estado nacional, teria dado uma bronca na mulher." Crítico ferrenho da política econômica - motivo, inclusive, da sua saída da presidência do BNDES em novembro de 2004 -, Lessa alerta que o governo não está dando a devida importância à crise internacional de petróleo. Ainda que o Brasil tenha reservas, a situação mundial pressionará os preços, especialmente das commodities, e o País não pode ter como única resposta o aumento das taxas de juros e a política cambial, determinados pelo Banco Central. "Querer controlar a inflação com câmbio é suicídio nacional", dispara. Lessa afirma que "é preciso acabar com a "paulistocentria" na política brasileira". Sua chapa ideal seria formada pelo governador tucano Aécio Neves e o deputado Ciro Gomes, do PSB. Na segunda-feira 23, Lessa deu a seguinte entrevista à ISTOÉ: (...)



Pouca gente as conhece. Mas uma série de empresas brasileiras mudou a cara do setor em que atuam. Aqui e no mundo
REPORTAGEM DE ADRIANA MATTOS, MARCIA VAISMAN, RICARDO OSMAN E ROSENILDO FERREIRA

Petrobras, Vale, Gerdau, Embraer, Votorantim - nos últimos anos, esses conglomerados tornaram-se grifes da globalização. Nasceram no Brasil, e todos os conhecidos entraves da economia nacional não impediram que elas se transformassem em referências em seus setores de atuação aqui e ao redor do planeta. Ao lado desses colossos, porém, há uma série de empresas, menores e menos famosas, que por algum motivo também surpreendem quem as conhece por dentro. Uma delas, a Santana, arrebatou sem alarde a liderança nacional da produção de jeans da Alpargatas. Outra, a Cury, fabrica desde sempre o chapéu utilizado por Harrison Ford em sua saga como Indiana Jones. Há casos de empreendedores visionários, como o da Silimed, que apostou no mercado de silicones quando a moda ainda eram os seios pequenos. Já a Aeromot preferiu investir em tecnologia para, como a Embraer, ganhar os céus globais. Em todas elas, o trinômio "vocação empreendedora, tecnologia e (por que não?) sorte" explica muito sobre o sucesso empresarial, como revelam as histórias a seguir.

O enfant terrible do CADE

Com 32 anos e fama de durão, o novo xerife da concorrência já inspira medo nas empresas
GUSTAVO GANTOIS

DENTRO DE DUAS SEMANAS o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência dará início a um rejuvenescimento de seus quadros. Com a saída da presidente Elizabeth Farina e de três conselheiros para julho e agosto, nenhum membro do Cade terá mais de 40 anos. Dos quatro nomes da nova leva, um chama atenção em particular. Arthur Badin, atual procuradorchefe do órgão antitruste, deverá ser nomeado como presidente. Badin, apesar dos 32 anos, tem despertado uma saraivada de reações críticas - e outras positivas. Seus algozes são grandes empresas que encontraram no jovem advogado barreiras para concretizar negócios que foram rejeitados pelo conselho do Cade. O mais célebre foi o caso da Vale, multada por Badin em R$ 33,5 milhões pelo descumprimento das determinações do Cade no julgamento da ação movida pela CSN em torno da mina Casa de Pedra. Outra empresa que não gostaria de ver Badin à frente do Cade é a Nestlé, que teve o caso Garoto reaberto a pedido do procurador e será obrigada a se desfazer do negócio. "Faço o trabalho para o qual sou pago", diz Badin a quem o indaga sobre sua dita inflexibilidade. (...)
A Swat vem aí

Um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos abre espaço para que fiscais de lá vistoriem empresas nacionais
Gustavo Gantois

Acostumados com filmes hollywoodianos, empresários brasileiros agora correm o risco de se deparar com fiscais do Internal Revenue Service, a Receita Federal dos Estados Unidos, batendo em suas portas. Em tramitação urgente na Câmara dos Deputados, o projeto de decreto legislativo 413/2007 abre brecha para que fiscais americanos possam vasculhar e até processar empresas brasileiras. O texto foi assinado pelo secretário Jorge Rachid e o embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel, em março do ano passado. E de lá para cá já passou pelas mãos de autoridades do Itamaraty e de duas comissões no Congresso. Quem viu o projeto, aponta ameaças à soberania nacional. "Em qualquer tratado sobre tributação você pode pedir informações fiscais às autoridades competentes de outro país", afirma o jurista Ives Gandra da Silva Martins. "Mas mandar os fiscais para realizar diretamente esse trabalho fere qualquer princípio constitucional". É algo que dificilmente seria aplicado de forma recíproca, princípio básico dos tratados internacionais. A autoria do projeto é da Receita Federal, mas o assunto é tão espinhoso que o Ministério da Fazenda mantém sigilo sobre qualquer informação relativa ao acordo. Na Câmara, a Comissão de Relações Exteriores aprovou o projeto a toque de caixa. Na quarta-feira 18, ele passou na Comissão de Finanças e Tributação e segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça. Ali, pelo menos, parece que há gente informada sobre as entrelinhas do texto."Não posso entregar a fiscalização de empresas brasileiras a fiscais do Exterior", diz o deputado Eduardo Cunha, presidente da CCJ. Para as empresas, o assunto ganhou contornos de filme de terror. Especialistas consultados são unânimes em afirmar que o interesse dos EUA no acordo recai principalmente sobre firmas americanas com operações no Brasil. "Há uma caça às bruxas nas investigações sobre lavagem de dinheiro, o que está fazendo as autoridades de lá olharem mais para cá", diz o senador Francisco Dornelles. Mas nada impede que os fiscais da Swat americana também queiram abrir os livros de companhias nacionais. E até mesmo no governo a idéia é mal recebida. "Acho uma besteira", disse à DINHEIRO o ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento. "Até porque eles nunca aceitariam ser submetidos a nossos fiscais."

"Isso fere princípios da nossa Constituição"

O que a OPEP quer do Brasil

De olho no pré-sal, o cartel do petróleo estende o tapete vermelho ao País, mas pode ser mais interessante ficar de fora
DENIZE BACOCCINA

UM IMENSO TAPETE VERMELHO esperava o ministro Édison Lobão, de Minas e Energia, ao desembarcar no aeroporto de Jedá, na Arábia Saudita, no fim de semana passado. Ao descer do avião, ele foi recebido pelo ministro saudita de Petróleo, Ali Al-Naimi. Na sala VIP do aeroporto, reservada aos convidados especiais do rei Abdula, o monarca saudita, Al-Naimi quis saber sobre as reservas brasileiras no pré-sal e perguntou, de maneira improvisada, sobre os campos de Tupi, Júpiter e Carioca. Pela primeira vez, o Brasil era convidado para uma reunião com um grupo de grandes produtores e consumidores de petróleo. "Entramos no clube", disse Lobão à DINHEIRO (leia sua entrevista à página 40). Organizada pela Arábia Saudita, o maior produtor e exportador de petróleo do mundo, a reunião tinha como objetivo discutir o aumento do preço do produto - que já passou dos US$ 135 o barril e segundo previsões pessimistas pode chegar a US$ 200 - e suas conseqüências para o preço dos alimentos.


O jornalista Paulo Henrique Amorim protocolou, na quinta-feira 12, na Procuradoria-Geral da República do Estado de São Paulo, sob o número 4621/2008, uma representação, com cópia para o procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. Na peça, Paulo Henrique justifica a representação por suspeitar de malversação de fundos públicos e prevaricação no processo de compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, o caso BrOi. A iniciativa é contra o Ministério da Fazenda, os diretores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os diretores do Banco Central e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), para que se promova “a cessação da conduta, a aplicação das multas cabíveis e a abertura de ação civil pública”. A representação foi protocolada no mesmo dia em que a Anatel aprovou mudanças no Plano Geral de Outorgas, para viabilizar o negócio, que beneficia os empresários Carlos Jereissati, Sérgio Andrade e Daniel Dantas. A seguir, os principais trechos da entrevista de Paulo Henrique à CartaCapital. (...)

Ser pública ou não ser?

Agir de acordo com os trâmites do serviço público ou buscar a agilidade adequada a uma emissora de televisão? Esse parece ser o cabo-de-guerra por trás da saída de dois homens fortes da TV Brasil, a rede pública capitaneada pelo governo federal. Na terça-feira 17, Orlando Senna, diretor-geral da tevê, entregou a carta de demissão ao presidente Lula. Sua atitude foi motivada pelos embates entre o diretor de relacionamento da rede, Mário Borgneth (também afastado), e a presidente, Tereza Cruvinel. Senna, em entrevista por e-mail, procura amainar a disputa, mas deixa surgir, nas entrelinhas, a razão dos desentendimentos. “Há um nível de engessamento burocrático e jurídico inadequado a uma empresa cuja dinâmica operacional é fundamental para o sucesso”, afirmou. Cruvinel, por sua vez, diz que certos cuidados são inerentes a uma empresa pública. “Quando se trata de dinheiro público, há ordenamentos legais que precisam ser cumpridos. Por isso, é difícil fazer tevê no setor público. Se fosse fácil, alguém já teria feito.” Por ora, ela vai acumular a presidência com a diretoria até aqui ocupada por Senna. Cruvinel, jornalista egressa das Organizações Globo, chegou à TV Brasil pelas mãos do ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Senna e Borgneth eram egressos do Ministério da Cultura (MinC), idealizador do projeto da emissora pública federal. A falta de alinhamento entre a “turma do jornalismo” e a “turma da produção” havia sido antecipada por CartaCapital na reportagem Do Estado ou do Governo? . A resposta a tal pergunta, como se vê, não é nada simples. (...)

O Grande Mudo em ação

A tragédia dos morros cariocas espanta o mundo. Três jovens de 17, 19 e 24 anos foram seqüestrados sem motivo por sete soldados e três sargentos comandados por um tenente, Vinícius Ghidetti de Moraes, no Morro da Providência, na noite de sábado 14 para domingo 15. Conduzidos do Providência, sob controle do Comando Vermelho, para outro morro, o da Mineira, foram entregues à camorra local, conhecida como Amigos dos Amigos. Os corpos foram enfim encontrados em um lixão, apresentavam 41 perfurações e mutilações. Trata-se de um enredo marcado por ferocidade inaudita, com implicações gravíssimas, entre elas a cumplicidade de militares e traficantes. Grita, porém, antes de tudo, o uso político do Exército. Desta vez, num projeto eleitoreiro a favorecer o bispo-senador Marcelo Crivella, candidato declarado à prefeitura do Rio de Janeiro. O projeto voltado à formação de curral eleitoral chama-se Cimento Social. Está camuflado em reformas de fachadas e de telhados de casas do Providência. Limita-se a remendar e pintar de verde os casebres, a custo unitário equivalente a cerca de 63% do valor de uma casa nova. (...)

Fundo soberano para quê?

Márcia Pinheiro
Nem mesmo o presidente Lula entendeu a proposta de criação de um fundo soberano brasileiro com o aumento do superávit primário de 3,8% para 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para explicar a natureza desses fundos, sem esconder críticas à fórmula do Ministério da Fazenda, CartaCapital conversou com Celso Grisi, especialista em comércio internacional, diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). CartaCapital: O governo cogita ter um fundo soberano. É uma boa iniciativa? Celso Grisi: Se um país acumulou reservas e pensa no futuro, é legítimo ter essa poupança para tempos mais adversos. Um fundo soberano seria muito interessante para o Brasil, porque nos ajudaria a evitar a sobrevalorização do real. E porque as reservas de 200 bilhões de dólares que o País tem são muito mal remuneradas. Para ser um investimento seguro, é preciso colocar os dólares em títulos do Tesouro americano, por exemplo. Um fundo soberano nada mais é do que uma aplicação mais rentável. Além disso, pode ser usado como uma política estratégica do País. Comprar portos, empresas de energia, varejistas. O Brasil poderia, com tal fundo, adquirir a distribuição de suco de laranja nos Estados Unidos. (...)

Em defesa do estado
Márcio Sampaio de Castro

Discípulo de Darcy Ribeiro, o antropólogo Mércio Pereira Gomes orgulha-se de ter sido o segundo presidente na história da Fundação Nacional do Índio (Funai) a dirigi-la por mais tempo. Foram três anos e sete meses. Distante de Brasília, Gomes repete a quem quiser ouvir que a Funai precisa ser refundada. Também afirma que a presença de ONGs estrangeiras atuando nas reservas é proporcional à ausência do Estado brasileiro. As críticas não significam que o antropólogo concorde com o comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que classificou a política indigenista de caótica e criticou as ONGs. “Concordo com o general quando ele diz que a política indigenista não funciona na prática, mas discordo frontalmente que as terras indígenas sejam uma ameaça à integridade nacional. Temos terras indígenas nas fronteiras com todos os nossos vizinhos e isso nunca foi problema”, afirma na entrevista a seguir. (...)

Sextante :Antonio Delfim Netto

O fantasma de 1998-2002

Diante das enormes incertezas que assombram a economia mundial e das não menores que dominam a nacional, talvez seja interessante explorar como, em apenas cinco anos, a situação brasileira passou da prática insolvência à bonança atual, revelada na tabela Avanços Visíveis. Em virtude da dramática (mas esperada e advertida) “virada” da situação externa em 2008, quando já se espera um déficit em conta corrente digno da octaetéride fernandista e de previsões mais sombrias para 2009, é legítima a preocupação com a possibilidade de voltarmos a ter problemas com o financiamento externo, se, ou quando, as forças que determinaram a melhora espetacular cessarem de exercer ou reduzirem a sua pressão. Quais são essas forças? (...)
Quando a direita bloqueia a via

Se as ocupações e bloqueios localizados do MST já servem de pretexto para a imprensa conservadora e um punhado de procuradores gaúchos pretenderem declará-lo “organização criminosa”, que seria se bloqueasse os transportes e o abastecimento de alimentos e combustíveis por meses a fio, em todo o País? Na Argentina, porém, a mesma atitude dá direito ao aplauso e apoio dos órgãos de análoga coloração ideológica, uma vez que parta da oligarquia latifundiária e dos barões do agronegócio. Já uma manifestação de apoio ao governo e a detenção (por ordem judicial, durante duas ou três horas) de um líder ruralista que liderava o bloqueio de uma importante estrada foram qualificadas pelos mesmos meios de ser “provocações”. Dito isto, é preciso apontar o papel nessa crise das estruturas legadas pela história. O costume da mobilização popular (ou mesmo nem tão popular, como neste caso) e a legitimidade a ela atribuída ainda são vistos como aberrações no Brasil, mas fazem parte da herança positiva do peronismo. Este também legou, porém, o esvaziamento das instâncias de mediação, inclusive dos parlamentos. De presidentes de todas as tendências espera-se o papel de monarcas absolutos eleitos. A falta de espaço para o debate e negociação francos e racionais transforma em queda-de-braço as disputas não resolvidas nos bastidores e as leva às ruas em tom intransigente e histérico. (...)


No ano da realização dos Jogos Olímpicos de Pequim, a China emerge como o maior motor do crescimento econômico global — um fenômeno que é bom para o mundo e melhor ainda para o Brasil

Chineses comemoram a chegada da olimpíada: esforço para mostrar face amigável ao resto do mundo

Por Tiago Lethbridge, de Pequim

Há quase uma década, o então todo-poderoso secretário do Tesouro americano, Larry Summers, comparou a economia mundial a um avião que voava com apenas uma turbina. Estava se referindo aos Estados Unidos. O mundo dependia da potência econômica americana para manter-se em velocidade de cruzeiro. Naquela época, a expansão da economia dos Estados Unidos representava quase metade do crescimento global. Ao primeiro sinal de falha na turbina, portanto, os passageiros eram obrigados a colocar as mãos na cabeça e rezar para sair vivos do pouso forçado. Pois o ano de 2008 é um marco na história econômica — o ano em que a turbina de Summers falhou e, apesar do solavanco, o avião segue seu caminho com relativa calmaria. A razão para isso é a China. Pela primeira vez na história moderna, a China será indiscutivelmente o maior motor da economia mundial. De acordo com as projeções mais recentes, sua fatia na expansão global no ano será de 23%, o equivalente ao desempenho de Estados Unidos e Europa somados. No ano passado, China e Estados Unidos deram à expansão mundial contribuição semelhante. Em 2008, não há dúvidas — este é o ano da China. O que torna esse fenômeno ainda mais relevante é a previsão de que não será um espasmo. Após três décadas seguidas de crescimento na faixa dos 10% ao ano, a economia chinesa é hoje grande o bastante para segurar a economia mundial no caso de uma freada americana. De acordo com uma estimativa do Banco Mundial, seguirá assim no futuro próximo. Um crescimento chinês de aproximadamente 10% equivalerá a uma expansão de 2% na economia americana. Como essas taxas são condizentes com o atual estágio de desenvolvimento dos dois países, o Banco Mundial prevê que China e Estados Unidos serão, a partir de agora, os dois motores do mundo, com potências semelhantes. As implicações disso são diversas. Em 2003, o inglês Jim O’Neill, economista-chefe do banco de investimento americano Goldman Sachs, previu que em 2041 a China ultrapassaria os Estados Unidos como maior economia do planeta. Muitos fizeram troça da previsão. Afinal, nos anos 80 o Japão era o candidato mais forte a superar a hegemonia americana, mas entrou em decadência, e os Estados Unidos seguiram na liderança. Mas os dados recentes fizeram com que O’Neill redobrasse a aposta na China. Segundo ele, a ultrapassagem pode acontecer em 2023, quase 20 anos mais cedo que a estimativa original. “Eles estão crescendo muito mais que o previsto”, disse a EXAME O’Neill, criador da sigla Bric, que designa as quatro maiores economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China). (...)
A era do petróleo barato ficou para trás

Os custos para explorar novos poços de petróleo vêm aumentando significativamente. O banco Goldman Sachs estimaque, mesmo após o final da atual onde especulativa – que pode elevar o barril cairá abaixo de 65 dólares. Esseseria um novo patamar mínimo da commodity. Anteriormente, previa-se que, após o atual choque, o preço pudesserecuar abaixo dos 40 dólares, limite em que permaneceu por quase 20 anos.

A vale quer ser verde

A maior empresa privada do Brasil lança uma campanha com apelo ecológico — seu maior desafio será provar que sua preocupação vai além do marketing

Mina da Vale: pior avaliação entre as mineradoras
Por Malu Gaspar

Em sua última campanha publicitária, que estreou no início de junho na TV, a Vale investiu na imagem de companhia sustentável, capaz de transformar minérios em sonhos e ainda fazer tudo isso respeitando o meio ambiente e as comunidades nos arredores de suas minas e instalações. A campanha faz parte de um colossal projeto de lançamento da nova marca da empresa, que, em novembro do ano passado, deixou de ser a Vale do Rio Doce para se chamar apenas Vale. Com orçamento de 59 milhões de reais, a estratégia de divulgação do novo nome aproveita para colocar a Vale na onda da “companhia verde”, a mais nova tendência entre as grandes empresas globais que querem agregar uma imagem positiva ao seu nome — seja ela uma mineradora, um banco ou uma companhia de celulose. Essas corporações já perceberam que empresas amigas do planeta têm maiores chances de ganhar a simpatia dos consumidores e investidores — principalmente na Europa e nos Estados Unidos. “Há uma busca desenfreada por aparecer bonito na foto”, diz Alejandro Pinedo, da consultoria Interbrand, especializada em avaliação e construção de marcas. “O apelo à sustentabilidade passou a ser considerado um dos requisitos para tornar as empresas mais competitivas.” (...)

Ele quer dominar

Visto como uma espécie de Bonaparte dos negócios, o carioca Carlos Brito, presidente da cervejaria belga InBev, está perto de se tornar um ?dos executivos brasileiros mais poderosos do planeta
Francois Lenoir/Reuters

Carlos Brito, presidente mundial da InBev
Por Cristiane Correa
EXAME Nas últimas semanas, o nome de um discreto e quase desconhecido executivo brasileiro tomou as páginas dos mais importantes jornais e revistas de economia do mundo. Presidente da cervejaria belga Inbev, o carioca Carlos Brito tornou-se o protagonista de uma negociação que pode mudar radicalmente o mercado global de bebidas e de produtos de consumo de massa. No dia 11 de junho, a InBev fez uma oferta pública para comprar a americana Anheuser-Busch — um negócio de mais de 47 bilhões de dólares. Caso a oferta seja aceita e o negócio se concretize, seu resultado criará a quarta maior companhia de consumo do mundo em valor econômico, atrás apenas de Procter&Gamble, Nestlé e Coca-Cola. Em grande medida, cabe a Brito, de 48 anos de idade, a tarefa de convencer os acionistas da Anheuser-Busch a vender uma companhia ícone do capitalismo americano, o governo dos Estados Unidos a não barrar a investida belga e a população da cidade de St. Louis, onde fica a sede da cervejaria, de que uma possível aquisição não vai significar fechamento de fábricas e demissão em massa. Diante disso, Brito, um homem das finanças e da operação, teve de se transformar numa espécie de relações-públicas — uma missão aparentemente difícil para alguém que habitualmente se recusa a dar entrevistas e que construiu sua carreira quase no anonimato. (Procurado por EXAME, ele não atendeu à reportagem.). Casado e pai de quatro filhos, Brito é o homem de confiança de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, ex-controladores do banco Garantia e hoje os maiores acionistas individuais da InBev. Ao comprar a combalida Brahma, em 1989, os três financistas deram início a um arrojado plano de expansão que se estenderia por anos e pegaria de surpresa o mercado em vários momentos. A primeira grande tacada foi a compra da Antarctica, anunciada em 1999. Considerada inicialmente impossível, devido à profunda rivalidade e às diferenças culturais das duas companhias, a união entre as duas empresas deu origem à AmBev. Quatro anos depois, a AmBev foi vendida à belga Interbrew, formando a InBev. De acordo com o modelo proposto por Lemann, Sicupira e Telles, apesar de o controle acionário ser belga, a gestão da cervejaria ficaria nas mãos de executivos brasileiros, todos imbuídos da cultura de risco e da agressividade forjada no velho Garantia. Depois de promover um intenso choque de gestão na sede da InBev, em Leuven, chegou o momento de dar a tacada mais esperada: comprar a fabricante da Budweiser e formar a maior cervejaria do mundo em produção e faturamento — um sonho acalentado pelo trio há quase duas décadas. Sem a concretização da compra, o plano forjado no passado não será completado. Eis a responsabilidade que Brito tem hoje nas mãos. (...)
O boi sumiu do pasto

Após uma fase de euforia, os frigoríficos enfrentam custos em alta e perda de rentabilidade. Resultado: uma nova rodada de consolidação

Tiago Queiroz/AE
Por Fabiane Stefano
Em poucos anos, o setor brasileiro de frigoríficos deixou o obscurantismo no mundo dos negócios para posicionar-se como um dos mais poderosos do mundo. No mercado global, o Brasil tornou-se o maior fornecedor — hoje, de cada 6 quilos de bife consumidos no planeta, 1 tem origem no país. As principais empresas processadoras de carne, historicamente associadas a práticas de negócios informais e ao baixo grau de profissionalização, cresceram ancoradas no excepcional desempenho das exportações, ganharam musculatura, adquiriram concorrentes menores e entraram no mercado de capitais — três delas abriram o capital na bolsa de valores e outras fizeram emissões de bônus. Com capital em mãos e beneficiados por custos competitivos, os frigoríficos viram a chance de expansão internacional. No ano passado, o JBS Friboi comprou a americana Swift e se tornou a maior empresa de produção de carne bovina do mundo. Essa trajetória ascendente agora enfrenta seu primeiro revés: falta boi para produzir carne. Com a escassez de matéria-prima, os custos subiram e a rentabilidade dos frigoríficos deteriorou-se rapidamente. O cenário é propício para que o processo de concentração do setor se acentue ainda mais. No começo de junho, os donos dos frigoríficos Quatro Marcos e Margen se associaram para criar uma nova empresa, a Uni Alimentos, que nasce com capacidade de abate diário de 18 500 animais, volume superior ao do Friboi no Brasil. Pelo menos um deles, o Margen, estaria em apuros financeiros, com dívida elevada e atraso no pagamento de fornecedores. A união das operações reduz custos para enfrentar os tempos — com perdão do trocadilho — de vacas magras. “Não podíamos esperar o mercado melhorar para fazer a associação”, diz Carlos Gradim, diretor de relações com investidores da Uni. (...)

O clube vai aumentar

Problemas com o governo local e a intensa burocracia fizeram com que poucas companhias brasileiras conseguissem se instalar na China. Mas em 2008 um novo grupo de empresas como Gerdau, Sadia e Votorantim vai se aventurar por lá
Kiko Ferrite
Por Tiago Lethbridge

A China se tornou nos últimos 20 anos um dos principais centros de gravitação da economia mundial. Para grandes empresas que levam a competição a sério, colocar os pés no país se tornou obrigatório. Pode-se não ganhar dinheiro hoje. Ou amanhã. Mas é possível ser grande no futuro sem fazer parte da economia que mais cresce no mundo? Foi essa pergunta que levou o inacreditável número de 600 000 empresas a se instalar na China nas últimas duas décadas. O total investido por elas atingiu 720 bilhões de dólares, valor que supera o tamanho da economia de 162 países. Nessa onda, a participação de empresas brasileiras chama a atenção pela descabida modéstia. Pouco mais de 35 companhias nacionais abriram escritórios na China. A imensa maioria tem um ou dois representantes no país. E apenas quatro abriram fábricas por lá. (...)

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