terça-feira, 24 de junho de 2008

Mercenários expandem ações na América Latina


Colômbia e Bolívia já estão na mira da Blackwater
Por Andrea Murta

Da FOLHA DE SÃO PAULO

Se a ação de empresas mercenárias no Iraque é conhecida, a atuação na América Latina ainda anda longe dos olhos do grande público. Mas empresas como a americana Blackwater estão cada vez mais envolvidas com a guerra às drogas na Colômbia e fazem negócios com a brasileira Embraer. Leia a continuação da entrevista do jornalista americano Jeremy Scahill sobre mercenários.

FOLHA - Como os mercenários atuam na América Latina?
SCAHILL - Neste exato momento, a Blackwater está participando de uma gigantesca concorrência para trabalhar para o governo americano em sua "luta contra as drogas". Esse programa, na América Latina, visa a agir na Colômbia e na Bolívia. Nesses países já há outra empresa do tipo, a DynCorp, que faz serviços para os EUA no que deveria ser ação antidrogas, mas que não passa de contra-insurgência. Os EUA repassam a Bogotá milhões de dólares ao ano dentro do Plano Colômbia, e estima-se que o governo colombiano gaste quase a metade com empresas mercenárias.Elas treinam forças locais, pilotam helicópteros e já participaram de confrontos internos. No Brasil, a Embraer recentemente vendeu uma aeronave de combate Super Tucano para a Blackwater, em um acordo autorizado pelo governo Lula, em negociações com os EUA. Acho que isso levanta questões sérias sobre por que o Brasil acredita ser adequado vender aviões a uma empresa com uma reputação de abusos e violência no mundo inteiro. Até porque a América Latina é a próxima fronteira para essas empresas.

FOLHA - O sr. crê que a Blackwater dá proteção adequada a seus empregados?
SCAHILL - Essa é uma das ironias da Blackwater. Na maior parte dos casos, eles têm equipamentos melhores e pessoal mais qualificado do que um soldado comum americano, mas às vezes enviam equipes muito mal preparadas para situações muito perigosas. E é comum que contratados de países pobres sejam destacados para a linha de frente. E recebem menos: colombianos recrutados pela Blackwater foram enviados ao Iraque com um salário de US$ 34 por dia, enquanto um agente americano chega a receber US$ 650 diários. Parece que a vida de um colombiano vale menos, para a Blackwater, do que a de um americano.

FOLHA - A Blackwater também defende interesses econômicos e internos da Casa Branca?
SCAHILL - Sim. Atua na vigilância de investimentos americanos no exterior, por exemplo, nos planos de oleoduto na região do mar Cáspio. E tem forte atuação dentro dos EUA. Foram contratados para patrulhar Nova Orleans depois do furacão Katrina (2005). Acabaram de abrir um enorme centro de treinamento em San Diego (Califórnia), a poucos quilômetros da fronteira com o México, para treinar as patrulhas de fronteira. E discute-se a privatização da polícia de fronteira dos EUA.

FOLHA - Como os mercenários afetam a política mundial?
SCAHILL - As conseqüências são muito sérias. Os governos estão abrindo mão do monopólio da força e da "violência organizada", que é uma das coisas que definem o Estado. Agora há empresas privadas que têm a força e o poder de fogo para potencialmente substituir a necessidade de alianças como a Otan. A parte mais deprimente é que a penetração dos mercenários já foi longe demais, não sei como pode acabar.

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