quinta-feira, 19 de junho de 2008

Na Mira do Belmiro

Pancadas e trovoadas no varejo

Já faz tempo que a meteorologia realista desta coluna prenuncia tempos obscuros para a atividade comercial no Amazonas. Alertamos sobre a tenebrosa frustração natalina nas vendas de 2007, um período aguardado para recompor as perdas e todo o ano, e a tímida performance do Dia das Mães. As estatísticas ufanistas de algumas entidades, entretanto, remaram em sentido oposto a esta vertente de desassossego e apreensão, a despeito de alguns companheiros terem fechado suas portas por absoluta falta de alternativas. Uma dezena de lojas deixou de existir nos últimos dois meses, apenas no Amazonas Shopping. É um quadro sombrio para um setor que gera três vezes mais emprego que o setor industrial e não tem a contrapartida fiscal e da descompressão burocrática daquele segmento.Na terça-feira, o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, trouxe a elucidação de nossa cantilena e contou que o comércio varejista no Amazonas teve o segundo pior desempenho do País no mês de abril, na comparação com abril de 2007, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio. Só não perdemos para Roraima, único Estado que apresentou retração no volume de comercialização, com índice de -0,2%. Nessa amostragem estão incluídos os combustíveis, super e hipermercados, tecidos, calçados, móveis, remédios, veículos e por aí vai. Só escapou da guilhotina o comércio de bens relacionados à produção da Zona Franca de Manaus, que está bastante aquecido. É o caso, por exemplo, de veículos e motocicletas, que experimentou alta de 2,7%; e materiais para escritório e informática (2%). Mesmo assim, considerando que a média nacional foi de 8,7%... a previsão vira realidade e continua sombria.Na semana passada, desembarcou em Manaus, em visita oficial, o presidente do Banco da Amazônia, Abdias José de Souza, com quem tive oportunidade de conversar há alguns dias por força de comentários desta Mira sobre a relação do Banco com o Estado do Amazonas e algumas derrapadas operacionais da Instituição. Na ocasião, com éticos e pruridos, ele anunciou um "novo tempo" da instituição em relação ao Estado e atribuiu a equívocos de gestão os problemas referidos, preservando com elegância as administrações anteriores. Anunciou um volume de R$ 500 milhões de investimentos no Estado e algumas medidas já tomadas traduzem a vontade política de reparar distorções. Até aqui, é coerente e procedente a conversa a que me referi. E tudo sugere que assim continuará.Entre os propósitos e a realidade, entretanto, os fatos não favorecem as intenções do Dr.Abdias. Recentemente a Comissão da Amazônia do Congresso Nacional citou o BASA como uma das ausências crônicas da ação federal nos municípios amazônicos, precisamente no Amazonas, onde apenas 7 agências atendem a demanda incontida de 63 municípios deste beiradão esquecido. Como operar, por exemplo, o Pronaf neste cenário? No Pará, com demografia, geografia e economia menores, são 36 agências, além de inúmeros postos da instituição. Uma defasagem inaceitável para um banco regional, sobretudo considerando que o Amazonas recolhe aos cofres federais 65% dos impostos de toda a região. Por que, então, não reverter a descentralização gerencial e corrigir na prática essas disparidades que comprometem as boas intenções? Por que não fortalecer a gestão local, dando-lhe mais autonomia e poder de decisão e expansão, num colegiado que mobilize e comprometa os atores locais? As pancadas e trovoadas do varejo anotadas pelo IBGE, o setor que mais emprega no país, poderia ter no BASA, descentralizado e comprometido, um parceiro à altura de nossa contribuição ao desenvolvimento regional... Não temos dúvida, Dr. Abdias, por isso venha mais vezes e seja sempre vindo.

Zoom-zoom.

Mauro Campbell - Já mencionamos o mérito e a justiça na escolha do Dr. Mauro para compor a Corte Suprema do país, consolidada nesta última terça-feira. Faltou dizer que esta presença vai permitir aos respectivos magistrados um olhar mais atento para esta região que, apesar de alvo permanente e histórico da cobiça estrangeira, guarda uma indiferença atávica da atenção nacional. E o que é mais grave, um desconhecimento nocivo de suas potencialidades..

As fichas sujas - Se a Constituição Federal considera todo cidadão inocente até prova em contrário, é preciso mudar a Lei para proibir a candidatura de quem tem processo em julgamento. O que não pode é impedir que o eleitor conheça a ficha de seu candidato e decida por ele mesmo em quem e porque votar..

Inflação - O fantasma da inflação começa a se materializar com índices que desestabilizaram o discurso otimista do governo federal e deixaram na mesma catraia do aumento da taxa de juros Fazenda e Banco Central, dois habituais desafetos. Os índices falam numa previsão que ultrapassa os 6% em dezembro, considerada sombria. Os preços do cotidiano refletem, entretanto, um cenário mais assustador..

Contribuição sem sentido - enquanto isso, com inflação e juros altos, numa estratégia inoportuna, danosa e irrelevante, pra não dizer, amoral, o Congresso tenta impor goela abaixo do cidadão mais um imposto, a Contribuição para a Saúde, a mesma prosopopéia da CPMF e suas distorções por todos conhecida. Tenha santa paciência!

(*) Belmiro é empresário dirige o Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.

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