Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá
Diante de meio copo de bebida, o otimista pensa: -ainda tenho meio copo para beber-. Ao contrário, o pessimista diz a se mesmo: -somente tenho meio copo para beber-. Ambos só tem meio copo de bebida, mas um fica feliz pensando no que tem, o outro fica triste, pensando no que lhe falta. Assim pode acontecer a todos nós quando olhamos a mesma realidade; alguns somente enxergam os lados positivos, outros somente os negativos. Não é fácil chegar à verdade objetiva, sempre haverá espaço para a interpretação. Provavelmente toda e qualquer realidade é o conjunto dos dois aspectos, têm lados bons e têm defeitos. Ninguém é perfeito.
Muito está sendo escrito e muito mais será dito nos próximos dias sobre Macapá, por ocasião do aniversário dos seus 250 anos. Os otimistas somente enxergam as coisas bonitas, talvez orgulhando-se de uma das últimas maravilhas reconhecidas: a Fortaleza. Outros, pessimistas, sustentam que em Macapá nada dá certo porque o pobre São José, no meio das águas do rio Amazonas, está de costa para a cidade.
Eu ainda estou descobrindo as coisas bonitas que tem, e que nem sempre são as mais visíveis e, infelizmente, encontro também os defeitos desta cidade, mas não é por isso que vou deixar de amá-la como se pode e se deve amar a cidade onde estamos vivendo. Acredito que tudo depende do nosso olhar e do nosso coração. Quem está triste, nem percebe a beleza de uma natureza magnífica e quem está feliz não liga muito se na rua onde mora tem lama e buracos.
Devemos amar a cidade onde moramos, pode ser a cidade onde nascemos ou que nos acolheu nos caminhos da vida. Amar é zelar. Amar é fazer o possível para que ela se torne melhor, mais bonita, mais simpática, mais pacífica. Não é tão difícil, nem impossível. Devemos começar pelas coisas simples, como na nossa própria família. Se cada um cuidasse da frente da sua casa, os passantes agradeceriam. Se cada um plantasse uma arvore, amanhã poderá colher os frutos e outros aproveitariam também da sombra. Se cada um plantasse uma flor, a avenida toda ficaria colorida.
Amar a cidade onde moramos é começar por nós mesmos, sem esperar sempre pelos outros ou pelas autoridades. É começar a acreditar que ali teremos que viver a vida toda e quanto mais bonito ficará o nosso cantinho, mais sorridente ficará o bairro todo.
Mas amar uma cidade é, sobretudo amar as pessoas que ali moram. Conhecer e respeitar os nossos vizinhos, os do outro quarteirão; quem sabe, num concurso pela rua mais alegre e ordenada. Disputando, talvez, em qual bairro ainda se pode dormir com a porta aberta, como nos velhos tempos, porque assim contam os antigos moradores. Vamos encontrar a rua e a praça onde as crianças podem brincar sem perigo e as pessoas sentar em círculo para conversar. Vamos atrás da quadra onde, por uma ano inteiro ninguém é roubado ou violentado. Vamos fazer um concurso de paz.
Tudo isto não é saudade de um passado, que não volta, é esperança de um futuro melhor, mais humano e mais fraterno. Uma cidade moderna não é feita somente de prédios altos, de avenidas grandes e de transito veloz. Deve ser feita, sobretudo, de relacionamentos novos entre os que partilham o mesmo chão, a mesma água, o mesmo sol e o mesmo vento. Mais uma vez é o nosso coração que faz o ambiente onde vivemos mais triste ou mais feliz.
Apesar de tudo, Macapá ainda é uma cidade de dimensão humana, onde muitos se conhecem pelo nome, são parentes, participam da mesma Igreja, torcem pelo mesmo time, choram juntos quando alguém morre.
Macapá crescerá, outros virão, mas ao encontrar pessoas educadas, aprenderão a educação, ao encontrar amigos, conhecerão a amizade, ao encontrar pessoas de fé, confiarão mais em Deus e na sua misericórdia. Ao encontrar moradores honestos e pacíficos, ficarão felizes com a paz. Começamos por nós. Cidadãos orgulhosos da própria cidade lutarão para defendê-la dos males da violência e do ódio. Zelarão pelo seu nome e a sua fama. Farão dela uma cidade única, incomparável, amada, como se ama alguém que tem um lugar grande no nosso coração.
Parabéns, Macapá.
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