Há quase 16 anos vivi uma experiência singular. Tomei o metrô em Nova York e fui à rua Quatro, no lado oeste de Greenwich Village. Bem perto da estação, no número 145 da West 4th Street estava uma pequena editora de livros chamada Sheridan Square Press, dirigida pelo casal Dick Schaap e Ellen Ray. Essa editora tinha publicado o livro do promotor Jim Garrison, "Na trilha dos assassinos", depois transformado no filme "JFK", de Oliver Stone. Ellen Ray é uma americana corajosa, então com 52 anos, um metro e noventa de altura, acostumada a brigar com a CIA (na revista "CovertAction Information Bulletin") e com o "New York Times" (criticado por ela em outra revista, "Lies of Our Times"). Além de editar aqueles dois periódicos polêmicos, dirigia - com o marido - o Instituto para a Análise da Mídia e a Sheridan Square Press, que já tinha publicado uns 10 livros. A tarefa exigia um esforço gigantesco de Ellen, Dick e alguns voluntários, em duas ou três salinhas acanhadas do Village. Para mim, era um exemplo impressionante de imprensa alternativa nos EUA. E de resistência ao crescente controle da mídia por grandes corporações como a Time-Warner e a News Corp, impérios multibilionários. A maior façanha de Ellen e Dick até então era o sucesso do livro de Garrison, que depois virou filme. A idéia que não queria calar Eu estava diante dela para saber mais sobre o feito. Ellen contou-me como encontrara o cineasta Oliver Stone numa festa, em Cuba, no final do festival de cinema de Havana. Explicou que Stone gosta de glamorizar esse encontro, dizendo ter acontecido no elevador do hotel, mas garantiu que não fora bem assim. A conversa dos dois, glamour à parte, fora numa festa, durante a qual presenteou Stone com o livro. Na verdade, sequer já era livro, conforme corrigiu, apenas uma prova. O livro de verdade ainda não estava pronto e obviamente nem tinha chegado às livrarias. Mas Ellen estava tão confiante que jurou a Stone que, se o lesse, seguramente iria querer filmá-lo. O cineasta prometeu ler, mas foi logo avisando que não poderia filmar. O momento não era bom porque estava comprometido com outros projetos já em andamento. De fato, no dia seguinte Stone deixou Cuba rumo a Los Angeles, de onde seguiria para as Filipinas. Ellen voltou para Nova York. De Los Angeles, o cineasta telefonou para dizer a ela que estava gostando do livro. Voltou a lamentar que não pudesse filmá-lo. Um ou dois dias depois, telefonou outra vez. Do Havaí. "Olha aqui, Ellen. É um grande livro. Que pena que eu não posso filmar". Finalmente, chegou às Filipinas. De novo procurou um telefone: "Terminei o livro, Ellen. Não consigo evitar Tenho de fazer esse filme de qualquer jeito".
Depois do sucesso, as dúvidas
O resto é história. Que você verá lendo o blog do colunista
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