Por Nilder Costa
Não é nenhum segredo que o ministro de Meio Ambiente Carlos Minc goste de falar e que adore um holofote. O próprio presidente Lula, que sabe dessas coisas, comentou ironicamente, na posse do novo ministro, que o ‘companheiro Minc’, em uma semana, já havia falado mais que Marina em cinco anos. O problema não reside na incontinência verbal de Minc, mas nas trapalhadas que vem criando com suas declarações. Uma das mais recentes, a que o governo irá ‘pegar bois piratas’ na Amazônia para conter o desmatamento predatório, além de inócua, transmite uma noção de ridículo em assunto tão sério. Minc culpou o aumento dos preços da soja e da carne pelo avanço do desmatamento na ‘Amazônia’ e defendeu o fim da pecuária extensiva na região. Como se recorda, na última vez em que o governo se meteu a laçar boi no pasto, os resultados foram desastrosos para o País e motivou a queda do então ministro da Fazenda Dílson Funaro. [1]
Atirando a torto e à direita, Minc vem confundindo até mesmo seus aliados ‘verdes’. Em plena comemoração ao dia do Meio Ambiente, ele declarou que o governo irá prorrogar a moratória dos produtos de soja cultivados em áreas desmatadas na Amazônia. Trata-se do pacto feito entre as grandes tradings exportadoras de soja, representadas pela poderosa Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), e um seleto grupo de ONGs internacionais liderado pela The Nature Conservancy (TNC) envolvendo a não comercialização da ‘soja amazônica’ por dois anos. [2]
"Fiquei surpresa", disse Ana Cristina Barros, representante da TNC. Segundo ela, não ficou claro qual o envolvimento de Brasília no acordo que apresenta ‘divergências a serem resolvidas’, forma elegante para evitar dizer que o mesmo micou quando Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, afirmou em abril passado que "Se alguém desmatar dentro da lei, nós vamos comprar. E já nesta safra". Com o preço da soja nas alturas, as ‘razões de mercado’ – ou seja, o bolso das traders – falaram mais alto e mandaram as ONGs às urtigas. [3]
Mesmo assim, o Greenpeace (que está no pacto da ‘moratória’) tenta ‘convencer’ o Carrefour, em Bruxelas, a pressionar as traders a manterem o acordo, caso contrário é de se supor que seus ativistas profissionais, como de hábito, possam a vir criar situações constrangedoras aos clientes da rede mundial de supermercados.
Provavelmente, o que o presidente Lula e outros esperavam de Minc é que ele mantivesse o perfil baixo exibido no ano e meio que esteve à frente da secretaria ambiental fluminense onde realmente surpreendeu ao deslindar o cipoal burocrático de importantes empreendimentos para o Estado e concedendo licenciamentos ambientais em tempo recorde. Esperavam, em suma, que Minc trabalhasse ‘à mineira’ no ministério. Se não seguir rapidamente os conselhos tipo ‘porque não te calas’, ele corre o risco de ser conhecido como Minc, o Breve.
Notas:
[1]Governo apreenderá terras desmatadas e gado ilegal, diz Minc, O Estado de São Paulo, 02/06/2008
[2]Signatários do acordo dizem que ainda há pendências, Valor, 06/06/2008
[3]‘Moratória da Soja’ micou, Alerta Científico e Ambiental, 03/04/2008
Não é nenhum segredo que o ministro de Meio Ambiente Carlos Minc goste de falar e que adore um holofote. O próprio presidente Lula, que sabe dessas coisas, comentou ironicamente, na posse do novo ministro, que o ‘companheiro Minc’, em uma semana, já havia falado mais que Marina em cinco anos. O problema não reside na incontinência verbal de Minc, mas nas trapalhadas que vem criando com suas declarações. Uma das mais recentes, a que o governo irá ‘pegar bois piratas’ na Amazônia para conter o desmatamento predatório, além de inócua, transmite uma noção de ridículo em assunto tão sério. Minc culpou o aumento dos preços da soja e da carne pelo avanço do desmatamento na ‘Amazônia’ e defendeu o fim da pecuária extensiva na região. Como se recorda, na última vez em que o governo se meteu a laçar boi no pasto, os resultados foram desastrosos para o País e motivou a queda do então ministro da Fazenda Dílson Funaro. [1]
Atirando a torto e à direita, Minc vem confundindo até mesmo seus aliados ‘verdes’. Em plena comemoração ao dia do Meio Ambiente, ele declarou que o governo irá prorrogar a moratória dos produtos de soja cultivados em áreas desmatadas na Amazônia. Trata-se do pacto feito entre as grandes tradings exportadoras de soja, representadas pela poderosa Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), e um seleto grupo de ONGs internacionais liderado pela The Nature Conservancy (TNC) envolvendo a não comercialização da ‘soja amazônica’ por dois anos. [2]
"Fiquei surpresa", disse Ana Cristina Barros, representante da TNC. Segundo ela, não ficou claro qual o envolvimento de Brasília no acordo que apresenta ‘divergências a serem resolvidas’, forma elegante para evitar dizer que o mesmo micou quando Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, afirmou em abril passado que "Se alguém desmatar dentro da lei, nós vamos comprar. E já nesta safra". Com o preço da soja nas alturas, as ‘razões de mercado’ – ou seja, o bolso das traders – falaram mais alto e mandaram as ONGs às urtigas. [3]
Mesmo assim, o Greenpeace (que está no pacto da ‘moratória’) tenta ‘convencer’ o Carrefour, em Bruxelas, a pressionar as traders a manterem o acordo, caso contrário é de se supor que seus ativistas profissionais, como de hábito, possam a vir criar situações constrangedoras aos clientes da rede mundial de supermercados.
Provavelmente, o que o presidente Lula e outros esperavam de Minc é que ele mantivesse o perfil baixo exibido no ano e meio que esteve à frente da secretaria ambiental fluminense onde realmente surpreendeu ao deslindar o cipoal burocrático de importantes empreendimentos para o Estado e concedendo licenciamentos ambientais em tempo recorde. Esperavam, em suma, que Minc trabalhasse ‘à mineira’ no ministério. Se não seguir rapidamente os conselhos tipo ‘porque não te calas’, ele corre o risco de ser conhecido como Minc, o Breve.
Notas:
[1]Governo apreenderá terras desmatadas e gado ilegal, diz Minc, O Estado de São Paulo, 02/06/2008
[2]Signatários do acordo dizem que ainda há pendências, Valor, 06/06/2008
[3]‘Moratória da Soja’ micou, Alerta Científico e Ambiental, 03/04/2008
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