sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Amazônia e a cobiça internacional

Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia na Universidade Cândido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG
Artigo publicado no Momento em 28.11.2001


A Amazônia corre sério risco. O Plano Colômbia está em plena execução. Com o pretexto de combate ao narcotráfico, os americanos já estão na parte colombiana da floresta amazônica. Não é de hoje que a rica região amazônica brasileira é alvo da cobiça internacional. A estratégia atualmente adotada pelos "donos do mundo" para conquistar a Amazônia não é pelo confronto direto e sim por via indireta, como, por exemplo, através da demarcação de terras indígenas.
Na realidade, já existem precedentes bem conhecidos por todos nós, brasileiros. Em 1850, os EUA já pregavam a ocupação internacional da região. Em 1930, o Japão defendeu a tese de abrigar naquela área excedentes populacionais. Em 1949, a UNESCO sugeriu a criação do Instituto Nacional da Hiléia Amazônica, com funções executivas. Em 1960, o Instituto Hudson defendeu a tese da criação de sete lagos na região. Em 1992, a chamada ECO-92 (Conferência Internacional), realizada no Rio de Janeiro, avançou o processo. A seguir, constatamos a realização, em maio de 1993, de manobras das Forças Armadas dos EUA, a menos de 100 km de nosso território, sob a desculpa de combate ao narcotráfico, ao mesmo tempo em que construíram gigantesca base aérea no Paraguai e adestraram uma divisão especial para combate na selva.
Em novembro de 1993, a ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos dos Índios, já preparando a criação da chamada "nação yanomami", a ser transformada posteriormente num "estado soberano". É sabido que os EUA concederam 28 ha de terra a cada índio norte-americano, enquanto o governo Collor destinou cerca de 9 milhões de ha a alguns milhares de índios yanomamis, em faixa contínua à concedida pela Venezuela, onde também a mesma tribo conseguiu um terreno equivalente para não mais de 3.000 índios. É muita coincidência. Um índio levaria mais de 70 anos para percorrer, andando, de um extremo a outro, a área demarcada.
O Conselho Mundial das Igrejas, em seu documento "Diretrizes para a Amazônia", prescreve a internacionalização da área. O ex-presidente François Mitterand declarou que "alguns países deveriam abrir mão de sua soberania em favor dos interesses globais". O ex-presidente Gorbachev afirmou "O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais". O ex-vice-presidente dos EUA, Sr. Al Gore, bradou: "a Amazônia é um patrimônio da humanidade e não dos países que a ocupam". E o estrategista da guerra do Vietnã, Sr. Henri Kissinger, enfatiza: "não devemos permitir que surja, ao sul do Equador, mais um tigre asiático". Todos na linha da defesa da extinção do Estado Nacional Soberano brasileiro, da restrição da soberania, da reunião das nações indígenas, do desmonte das Forças Armadas brasileiras, da prevalência das questões ecológicas. Qualquer semelhança não é mera coincidência. E há "brasileiros" que estão de acordo com isto. Por muito menos Joaquim Silvério dos Reis passou à História como traidor da pátria.
Lembram-se das festividades dos 100 anos do Teatro de Manaus, quando uma fortuna foi paga ao tenor Carreras, do filme Anaconda, rodado na região, e na edição de duas séries especiais contra a "destruição da Amazônia", dos seriados Super-Homem e Robocop ? Tudo isto faz parte da gigantesca orquestração dos "senhores do mundo", que financiam regiamente a mídia internacional e nacional para difamar o Brasil, vendendo a idéia de que não temos condições de administrar nosso território. É o emprego da expressão psicossocial.
Na expressão econômica, os organismos internacionais vão até o limite do intolerável em suas pressões. Recentemente , foi quebrado, na prática, o monopólio do petróleo, pelo Dr. David Zylbersztajn, com a licitação de 27 áreas de nove bacias sedimentares brasileiras em junho. A participação das multinacionais no faturamento da indústria passou a 44% e das empresas estrangeiras no segmento das grandes empresas passou para 42%. O crescimento do controle estrangeiro das empresas nacionais cresceu para 35% em 1997. E os alienígenas responderam por 44% do total exportado pela nação em 1997. Das 530 maiores empresas do país, 50% não pagam imposto de renda e das 66 maiores instituições financeiras, 42% também não recolhem, além de 34% dos tributos pagos pelas empresas estarem "sub judice". A cada R$ 1,00 arrecadado corresponde R$ 1,00 sonegado. O pagamento de juros nominais atingirá mais de 120 bilhões em 2001.
Na expressão militar, foi criado o Ministério da Defesa. O Comandante do Exército advertiu: novas restrições exigem estudo acurado para que não " atinjam a capacidade operacional das Forças , no cumprimento de suas missões constitucionais".
Na expressão política, procuram validar ações danosas ao Brasil, tornando-as irreversíveis. O presidente FHC proclamou, em discurso pronunciado no dia mundial do meio ambiente, às margens do rio Japurá: "Esta Amazônia é e será cada vez mais de brasileiros conscientes da importância da Amazônia. Se não houver continuidade das ações a questão ecológica nunca será resolvida no país". E, ao mesmo tempo, enviou ao Congresso a chamada "lei do desarmamento do cidadão". Soa estranho, na atual conjuntura, quando o país não tem nem poder nuclear, nem mais indústria bélica própria, enquanto os EUA aniquilam um país soberano, sem apresentação de provas conclusivas sobre os autores do atentado terrorista. Será que é para facilitar a tomada de nosso território e de nossas riquezas? Afinal, sabemos que numa guerra convencional não temos chance, só restando a guerrilha na selva, pois aos invasores não interessa a destruição das riquezas existentes através de bombardeios. E então será importante a posse de todo tipo de arma, até facas, bastões etc. por aqueles que vão defender nosso patrimônio e nossa soberania
E as últimas máscaras caíram. O senador republicano Paul Coverdell, presidente do subcomitê de relações exteriores do Senado norte-americano para assuntos do hemisfério ocidental, pregou, no dia 25.02.99, em Washington-EUA, a intervenção direta, de maneira unilateral, na América Latina, a pretexto de "proteger" a democracia. O senador afirmou que as ações da OEA (Organização dos Estados Americanos) na região têm sido insuficientes e chegou a afirmar que a América Latina atingiu um estágio em que golpes militares já não são aceitos. De acordo com ele, os EUA "devem ir mais fundo no combate a golpes em câmara lenta, em que um líder eleito livremente esmaga a democracia em seu país". Como exemplo, o senador citou a Venezuela, onde, segundo ele, o presidente Hugo Chávez teria adotado medidas para concentrar o poder em suas mãos, passando por cima de controles constitucionais. As idéias de Coverdell serão difundidas no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um centro de investigação de tendência conservadora.
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