Dr. Adriano Benayon
EUA e dólar
De há muito temos advertido: manter a quase totalidade das reservas em títulos norte-americanos custará muito caro ao Brasil, sem falar na China e na Rússia, que acumularam ainda maior quantidade desses títulos. Para o Brasil seria mais fácil liquidá-los enquanto não perdessem a maior parte do valor nominal. De fato, sendo, no caso, menor o volume que o daqueles países, as primeiras vendas não desencadeariam desvalorização tão grande dos títulos.
Há dificuldade crescente de o Tesouro dos EUA conseguir compradores para a maior parte dos títulos que precisa emitir a fim de: 1) cobrir o crescente serviço da dívida federal: 2) continuar investindo no poderio militar imperial; 3) adquirir trilhões de dólares de títulos podres, como os derivativos, limpando os balanços de bancos que deveriam falir; 4) comprar ações desses bancos e de empresas industriais, sem, incrivelmente, assumir o controle. A dívida federal chegou a US 11,5 trilhões em 30 de junho, tendo-se elevado em US$ 2 trilhões nos últimos 12 meses. O déficit federal dos EUA aproxima-se de US$ 2 trilhões, e diante das perspectivas de insolvência e de inflação, tem subido a taxa de juros, especialmente nos títulos de médio e longo prazo, o que, por sua vez, eleva o déficit. Assim, parte crescente dos rombos tem sido “fechada” com emissões de moeda pelo FED, o banco central dos EUA, de propriedade de grandes bancos privados, os causadores do colapso financeiro, com que, de resto, lucraram ao criar os títulos podres. Forma-se a hiperinflação, que só não se manifestou ainda nos preços de bens e serviços devido ao declínio da procura por causa da depressão. O déficit cresce também com a queda da arrecadação fiscal, devido ao declínio da atividade econômica e do emprego. Com 467 mil demissões em junho de 2009, acumulam-se quase 7 milhões de novos desempregados desde dezembro de 2007, sem incluir o setor agrícola. A taxa de desemprego chegou a 9,5%, tendo quase dobrado desde junho de 2007. Tal como numa República bananeira, ou pior, o Secretário do Tesouro, Geithner, apela aos bancos socorridos com dinheiro público, para que ajudem o governo a cobrir o déficit, adquirindo seus títulos. Espera que o presidente faça alguns telefonemas neste sentido: “comprem nossos títulos, ou a música vai parar”. Ou seja: para dar dinheiro a bancos privados (cerca de U$ 12 trilhões até o presente), o Tesouro dos EUA emite títulos públicos[1], pagando juros, e pede aos bancos que, com o dinheiro, comprem esses títulos, sobre os quais eles ganharão juros. É algo semelhante ao que se faz, há muito tempo, no Brasil, sendo as únicas diferenças: 1) o nível absurdamente alto das taxas de juros no Brasil; 2) não ser aqui o Banco Central privado, embora esteja igualmente a serviço dos bancos. Nos EUA o FED é privado, desde dezembro de 1913.
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Ao contrário do que propalam os economistas “bem comportados” e a grande mídia, os apuros dos bancos, principalmente nos EUA e na Europa, tendem a ressurgir de modo ainda mais intenso do que nos dois primeiros anos do colapso financeiro. Assim, o FED emitirá moeda em quantidades ainda mais espantosas do que já tem feito, para cobrir os novos rombos.
A propósito, os grandes bancos - que mandam no governo – têm usado o dinheiro que escandalosamente receberam dele, para fomentar novas bolhas, especulando em ações e na securitização, i.e., na criação de títulos, em que são empacotadas dívidas de empréstimos, inclusive referentes a novas hipotecas, e de cartões de crédito.
Tudo isso leva à mesma conclusão: não haverá, dentro de pouco tempo, mais como conter o afundamento do dólar, que vinha sendo evitado com a ajuda de grandes detentores estrangeiros de títulos estadunidenses.
Golpe mundial
Esse é o pano de fundo, oculto nos grandes meios de comunicação, das manobras da oligarquia anglo-americana para estabelecer a moeda internacional única. Isso significa consolidar e tornar mais absoluto o governo mundial, que já vem sendo exercido de fato por aquela oligarquia em grande número de países de todos os continentes.
Por incrível que pareça, a oligarquia aumenta sua concentração de poder não só nas conjunturas de produção em alta, mas também – e mais ainda – nas crises. As dinastias do poder real têm historicamente suscitado os colapsos financeiros e as depressões, para intensificar a concentração e para fortalecer-se institucionalmente.
Com crise aguda em 1907, os senadores e representantes ligados à oligarquia obtiveram no Congresso dos EUA a criação de Comissão Monetária Nacional supostamente para disciplinar o sistema financeiro.
A partir daí o grupo de grandes banqueiros norte-americanos e britânicos fez aprovar, de modo turvo, pelo Congresso, na calada das vésperas do Natal, a criação do Federal Reserve Bureau (o FED), imediatamente sancionada em lei, de 23 de dezembro de 1913, pelo presidente Woodrow Wilson, entrosado com a conspiração.
Esse foi o golpe inconstitucional que fez usurpar do governo dos EUA o poder de controlar a moeda e o crédito, em favor de um cartel de banqueiros privados. Foi precedido de intensa campanha, com a “justificativa” de que era necessário controlar o sistema financeiro em face dos abusos ocorridos em várias depressões desde 1873.
E o que está acontecendo agora nos EUA? O presidente Obama propõe plano para conceder ao FED, que é privado e não presta contas a ninguém, poderes totais de fiscalização e controle sobre os bancos e sobre toda a economia norte-americana.
As regras propostas garantem ao FED autoridade para regulamentar qualquer companhia cuja atividade lhe pareça ameaçar a economia e os mercados. O analista Harry Schultz traduz: “qualquer empresa que ‘ameace’ os interesses monopolistas dos banqueiros.”
Assinalam P. Joseph e S. Watson: “A reforma de regulamentação de Obama não passa de luz verde para que o cartel de bancos privados assuma por completo o controle dos EUA, usurpando os poderes das instituições de regulamentação existentes, as quais estão sendo recriminadas em face da crise financeira, a fim transferir esses poderes para o todo poderoso FED.”
“O governo deseja entregar tudo a uma corporação privada monolítica, a um bando de banqueiros que engoliram dinheiro dos contribuintes em quantia quase igual ao PIB e que estão dando uma banana à pergunta de para onde foi esse dinheiro.”
* Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento” .
abenayon@brturbo.com.br
[1] Claro que a maior parte daquele dinheiro foi arranjado com a emissão de moeda, privilégio pertencente ao FED, junto com os ganhos dele decorrentes.
De Benayon, leiam necessariamente:
A Bolha Financeira Mundial (Primeira Parte)
Independência para sobreviver
Mudança radical ou caos total
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Não se pode abstrair a ciência da política. É necessário dar nomes aos bois...
Serviço da Dívida: este é o problema estrutural do Brasil, senhor Lula...O resto é ladainha
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