sexta-feira, 4 de julho de 2008

União contra a "Quarta Frota" dos EUA no Atlântico Sul


Lula e Chávez cobram dos EUA explicações sobre reativação de unidade naval na região
Eliane Oliveira*, Janaína Figueiredo*e Leonardo Valente

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, aproveitaram a Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada ontem na província argentina de Tucumán, para fazer uma dura cobrança ao governo dos Estados Unidos. Ambos os chefes de Estado manifestaram forte preocupação pela reativação da Quarta Frota da Marinha americana, que após 58 anos voltou ontem a realizar operações militares nas Américas do Sul, Central e no Caribe. Durante seu discurso, no plenário de presidentes do bloco, Chávez afirmou que a estratégia militar americana representa uma ameaça para os países do continente, e defendeu a necessidade de o Mercosul "pedir uma explicação ao governo dos Estados Unidos por sua atitude". Lula, por sua vez, disse que o governo brasileiro pedirá explicações à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
- Devemos perguntar, em bloco, ao governo dos EUA por que está mandando a Quarta Frota à nossa região - enfatizou o presidente da Venezuela, afirmando ainda que o objetivo dos EUA é apropriar-se dos recursos naturais dos países da região.
Já o presidente brasileiro se antecipou e disse ter dado instruções ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para que peça esclarecimentos sobre a Quarta Frota ao Departamento de Estado americano.
- Descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira. Queremos que os EUA expliquem isto (a Quarta Frota), porque vivemos numa região totalmente pacífica. Nossa única guerra é a guerra contra a pobreza e a fome - disse Lula.
Chávez, em seguida, citou o poderio militar de Brasil e Venezuela, ressaltando que a volta da unidade da Marinha americana à região é um tema muito importante.
- Lula, você tem submarinos nucleares. Nós teremos mais aviões. Enfim, temos de saber o que eles pretendem em nossas águas. Isso é uma ameaça para todos os países da região - disse. - A imprensa está investigando, temos que ficar atentos porque este é um assunto muito importante.
Em seu discurso, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não se referiu diretamente à Quarta Frota, mas também destacou a importância de que os países da região preservem e defendam seus recursos naturais, "hoje na mira das grandes potências mundiais."
Outros líderes da região também protestaram contra o início das operações da unidade militar americana. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que a iniciativa dos EUA é intervencionista. Já o ex-presidente cubano Fidel Castro escreveu em artigo que o objetivo da reativação "é espalhar o medo".
Braço da Marinha americana na América Latina, a Quarta Frota americana atuou ativamente na região a partir de 1943, em meio à Segunda Guerra Mundial, com a missão prioritária de atacar embarcações alemãs na região e proteger navios aliados, que sistematicamente vinham sendo afundados por submarinos nazistas.
Com o fim da guerra e o deslocamento das atenções dos Estados Unidos para a então União Soviética, a frota foi extinta em 1950. Desde então, sua região foi absorvida pela Segunda Frota, mas de forma secundária.
Segundo o Departamento de Estado americano, a reativação da frota tem como objetivo garantir a segurança das águas internacionais da região especialmente contra o tráfico de drogas e o terrorismo. Com sede na Flórida, não terá uma estrutura de navios fixa, mas começou a operar ontem com um porta-aviões nuclear, o George Washington (que poderá ser remanejado a qualquer momento para outras regiões) e mais 11 navios. Seu novo comandante, Joseph Kernan, até então chefe do Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval, é um dos mais respeitados veteranos de guerra da Marinha e sua indicação ao cargo, segundo especialistas, pode indicar a importância da recém-ativada frota.

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Não deixe de ler, também, os artigos e matérias que foram publicados neste Blog e que se relacionam, direta ou indiretamente, com a questão:
Novos jogos de guerra
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
Em 11 de maio, à véspera de oficializar a reestatização da siderúrgica Ternium Sidor (adquirida em 1998 pelo grupo argentino Techint), Hugo Chávez acusou o colombiano Álvaro Uribe de “querer uma guerra por estar jogando o jogo que lhe ordenam dos Estados Unidos”.Dois dias antes, o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, afirmara que Iván Márquez, um dos dirigentes das Farc, estava na Venezuela e voltou a acusar Caracas de apoiar “terroristas”. Desde março, o governo da Colômbia vaza, a conta-gotas, trechos selecionados de arquivos supostamente encontrados em laptops tomados após o ataque colombiano de 1º de março, que massacrou Raúl Reyes e seus guerrilheiros em território equatoriano, interpretados de maneira a sugerir apoio financeiro e militar da Venezuela e do Equador à guerrilha. Chávez igualou as alegações de Bogotá aos documentos e indícios sobre inexistentes “armas de destruição em massa” forjados por Washington e Londres para justificar a invasão do Iraque.As ansiedades de Caracas têm sido alimentadas também pelo Pentágono, que em 24 de abril anunciou que, a partir de 1º de julho, será recriada a IV Frota, com sede na Flórida e especialmente destinada aos mares latino-americanos – embora o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, tenha se adiantado a dizer que ela não entrará em águas territoriais brasileiras sem autorização. (...)

Veja também:

A Marinha Americana pode Restabelecer a Quarta Frota (Oceanos Atântico Sul e Centro) - Norman Polmar - Analista Naval
China continues to help train African military personnel
Defesanet presents the document "China´s Africa Policy,
released 12th January 2006. Document pdf 120 kb

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