Marina sem pintura
Caso não tenha mudado de idéia, a ex-ministra Marina Silva fará hoje sua reentrada na tribuna do Senado, até com direito de ser assistida, na televisão, pelo presidente Lula, já retornado de Roma.
Ninguém deve esperar retaliações ou lavagem de roupa suja nesse primeiro pronunciamento da senadora pelo Acre, depois de sua demissão do Ministério do Meio Ambiente. No reverso da medalha, porém, colher-de-chá ela não vai dar ao governo. Poderá abordar os motivos que levaram-na a pedir exoneração.
O ponto alto do pronunciamento de Marina Silva deverá voltar-se para o futuro. Abordará o que entende necessário em termos de política ambiental, com ênfase para a Amazônia. Fazer o quê, daqui por diante, para corrigir rumos, rebater visões distorcidas e conciliar preservação com desenvolvimento.
Curiosa deverá ser a reação das bancadas do governo e da oposição, no Senado. Porque senadores como Mozarildo Cavalcanti, de Roraima, e Flexa Ribeiro, do Pará, empedernidos defensores da abertura de fronteiras agrícolas na região, não deixarão de participar da sessão.
Provavelmente Tião Viana, do Acre, e Eduardo Suplicy, de São Paulo, sairão em defesa da companheira, que inaugura um novo ciclo de debates ecológicos no Congresso, com uma peculiaridade: Marina Silva poderá fazer mais pela causa ambiental no exercício de seu mandato do que durante os cinco anos em que malhou em ferro frio, no ministério. E isso por razão muito simples: chegou à hora de se rever a esfrangalhada legislação ambiental.
Quanto a opinar se o seu sucessor deve ou não sair caçando bois piratas nos pastos amazônicos, é possível que a senadora peça licença para continuar abordando coisas sérias...
Quem lucra e quem paga
O Copom anunciará novo aumento dos juros, hoje, da ordem de meio ponto percentual. A taxa irá para 11,75%. O argumento do Banco Central é de conter possíveis investidas da inflação, mas, além do óbvio reconhecimento de estarmos chamando a recessão, a pergunta que se faz é sobre quem lucra e quem paga esse reajuste.
Os bancos e o sistema especulativo financeiro, como sempre, vão ganhar. Quanto aos que vão pagar, vemos todo dia no espelho.
Não dá para conciliar esse novo aumento com as palavras do presidente Lula na FAO, ontem, em Roma. Porque se o mundo pretende reduzir o preço dos alimentos e elevar a sua produção, não será favorecendo os atravessadores e aqueles que só vão lucrar sem jamais terem segurado o cabo de uma enxada ou movimentado um trator.
O regime é de exceção
Ontem, durante sessão de homenagem aos duzentos anos da instalação da imprensa no Brasil, o presidente do Senado, Garibaldi Alves, aproveitou para contundente pronunciamento contra as medidas provisórias. Pediu a ajuda dos jornalistas e não poupou o governo, lembrando que ano passado, das 145 sessões deliberativas realizadas pelo Senado, 89 apresentavam-se com a pauta trancada, por conta da obrigação dos senadores de apreciar os ucasses do trono. Para ele, o regime democrático transformou-se num regime de exceção, onde o poder Executivo paralisa as atividades legislativas com intromissões que na maioria dos casos não apresentam urgência nem relevância.
Garibaldi Alves denunciou que o governo recebeu e aplicou 126 bilhões de reais por conta das medidas provisórias. Acredita que esse dinheiro terá tido destino correto, mas garantir, quem garante?
A cerimônia enalteceu a figura de Hipólito José da Costa, fundador do "Correio Braziliense", mas prestou-se para que cada senador puxasse a brasa para sua sardinha. Se Garibaldi Alves verberou as medidas provisórias, Cristovam Buarque aproveitou para exigir educação para todas as crianças, Romeu Tuma falou da segurança pública e Pedro Simon denunciou a impunidade como o maior dos males nacionais.
E daí?
Depois de seis anos de disputa na Organização Mundial do Comércio, o Brasil ganhou em todas as instâncias o processo aberto contra os Estados Unidos, por conta dos subsídios que concedem aos plantadores de algodão no território americano.
A decisão obriga os Estados Unidos a nos indenizar e, mais do que isso, a suspender o protecionismo dado ao algodão. Vamos celebrar? Não há motivo, porque o governo de Washington deu de ombros, não vai cumprir as determinações indenizatórias daquele organismo internacional e nem por sombra suspenderá os subsídios a seus agricultores.
Fazer o quê? Acreditarmos que nossos interesses só poderão ser defendidos por nós mesmos. Nada de abandonar a OMC, mesmo em se tratando de uma entidade-fantasma, muito menos declarar guerra aos Estados Unidos. Mas por que não retaliar, no limite de nossas possibilidades? Aumentar tarifas, obrigar o capital especulativo cujo maior volume vem lá de cima a permanecer aqui por prazo determinado. Até mesmo obrigar cidadãos americanos que demandam o Brasil a tirar os sapatos nos aeroportos...
Ninguém deve esperar retaliações ou lavagem de roupa suja nesse primeiro pronunciamento da senadora pelo Acre, depois de sua demissão do Ministério do Meio Ambiente. No reverso da medalha, porém, colher-de-chá ela não vai dar ao governo. Poderá abordar os motivos que levaram-na a pedir exoneração.
O ponto alto do pronunciamento de Marina Silva deverá voltar-se para o futuro. Abordará o que entende necessário em termos de política ambiental, com ênfase para a Amazônia. Fazer o quê, daqui por diante, para corrigir rumos, rebater visões distorcidas e conciliar preservação com desenvolvimento.
Curiosa deverá ser a reação das bancadas do governo e da oposição, no Senado. Porque senadores como Mozarildo Cavalcanti, de Roraima, e Flexa Ribeiro, do Pará, empedernidos defensores da abertura de fronteiras agrícolas na região, não deixarão de participar da sessão.
Provavelmente Tião Viana, do Acre, e Eduardo Suplicy, de São Paulo, sairão em defesa da companheira, que inaugura um novo ciclo de debates ecológicos no Congresso, com uma peculiaridade: Marina Silva poderá fazer mais pela causa ambiental no exercício de seu mandato do que durante os cinco anos em que malhou em ferro frio, no ministério. E isso por razão muito simples: chegou à hora de se rever a esfrangalhada legislação ambiental.
Quanto a opinar se o seu sucessor deve ou não sair caçando bois piratas nos pastos amazônicos, é possível que a senadora peça licença para continuar abordando coisas sérias...
Quem lucra e quem paga
O Copom anunciará novo aumento dos juros, hoje, da ordem de meio ponto percentual. A taxa irá para 11,75%. O argumento do Banco Central é de conter possíveis investidas da inflação, mas, além do óbvio reconhecimento de estarmos chamando a recessão, a pergunta que se faz é sobre quem lucra e quem paga esse reajuste.
Os bancos e o sistema especulativo financeiro, como sempre, vão ganhar. Quanto aos que vão pagar, vemos todo dia no espelho.
Não dá para conciliar esse novo aumento com as palavras do presidente Lula na FAO, ontem, em Roma. Porque se o mundo pretende reduzir o preço dos alimentos e elevar a sua produção, não será favorecendo os atravessadores e aqueles que só vão lucrar sem jamais terem segurado o cabo de uma enxada ou movimentado um trator.
O regime é de exceção
Ontem, durante sessão de homenagem aos duzentos anos da instalação da imprensa no Brasil, o presidente do Senado, Garibaldi Alves, aproveitou para contundente pronunciamento contra as medidas provisórias. Pediu a ajuda dos jornalistas e não poupou o governo, lembrando que ano passado, das 145 sessões deliberativas realizadas pelo Senado, 89 apresentavam-se com a pauta trancada, por conta da obrigação dos senadores de apreciar os ucasses do trono. Para ele, o regime democrático transformou-se num regime de exceção, onde o poder Executivo paralisa as atividades legislativas com intromissões que na maioria dos casos não apresentam urgência nem relevância.
Garibaldi Alves denunciou que o governo recebeu e aplicou 126 bilhões de reais por conta das medidas provisórias. Acredita que esse dinheiro terá tido destino correto, mas garantir, quem garante?
A cerimônia enalteceu a figura de Hipólito José da Costa, fundador do "Correio Braziliense", mas prestou-se para que cada senador puxasse a brasa para sua sardinha. Se Garibaldi Alves verberou as medidas provisórias, Cristovam Buarque aproveitou para exigir educação para todas as crianças, Romeu Tuma falou da segurança pública e Pedro Simon denunciou a impunidade como o maior dos males nacionais.
E daí?
Depois de seis anos de disputa na Organização Mundial do Comércio, o Brasil ganhou em todas as instâncias o processo aberto contra os Estados Unidos, por conta dos subsídios que concedem aos plantadores de algodão no território americano.
A decisão obriga os Estados Unidos a nos indenizar e, mais do que isso, a suspender o protecionismo dado ao algodão. Vamos celebrar? Não há motivo, porque o governo de Washington deu de ombros, não vai cumprir as determinações indenizatórias daquele organismo internacional e nem por sombra suspenderá os subsídios a seus agricultores.
Fazer o quê? Acreditarmos que nossos interesses só poderão ser defendidos por nós mesmos. Nada de abandonar a OMC, mesmo em se tratando de uma entidade-fantasma, muito menos declarar guerra aos Estados Unidos. Mas por que não retaliar, no limite de nossas possibilidades? Aumentar tarifas, obrigar o capital especulativo cujo maior volume vem lá de cima a permanecer aqui por prazo determinado. Até mesmo obrigar cidadãos americanos que demandam o Brasil a tirar os sapatos nos aeroportos...
Esta coluna está em: www.tribunadaimprensa.com.br
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